domingo, 30 de novembro de 2008

.à cegueira.

Desde sempre o olhar inexperiente chega cego, porém com gana. Chega perto para percorrer com detalhes cada centímetro de quaisquer sentimentos e superfícies que possam vir a suceder aquele momento de tensão inexplicável. Menina, homem ou mulher esgueira-se para ver através, ou melhor, atrás do muro, aquilo que não lhe é permitido. E aí, tudo se vai, tudo se acaba e recomeça outra vez.

A história parece a mesma, mas cada vez que ela me conta, tem algum detalhe diferente. Seria mentira ou talvez fosse a mais verdadeira das histórias que ela me contava com brilho nos olhos e vontade de ficar calada? Aquilo que não nos é permitido é muito melhor...

E foi assim que soube da sua cegueira, da sua virtude, da sua inocência. O medo não se perde, mas teima em arriscar-lhe a vida, ou que fosse só um fio de cabelo velho, mas ela vai e atordoa o coração. Seu próprio, talvez não de outro, porque ela tem compaixão. E ela volta para aquele mesmo que a acariciava e sentia saudade. E ela volta para aquele mesmo que lhe deixara esperando. E ela volta para aquele mesmo desconhecido de olhos brilhantes e curiosos. E ela volta para aquele mesmo que um dia não falou nada.

Não sei se a considero corajosa, arriscar-se de novo com o mesmo. Mas me disseram certa vez que a vida é como um rio, e as águas passam, e as coisas mudam. Então, aquela pessoa que você conheceu há um ano não seria mais a mesma?

Eu posso te jurar que eu não sou, e nem ela.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

.rodamundo.rodagigante.rodamoinho.rodapião.

Rodava tudo lá fora, e ela nem estava bêbada. De repente, percebeu que rodaria também, para além da dança, caso não acordasse daquele sonho. Foi um baque atordoante, mas mudanças e giros e rodopios fazem parte de um cotidiano quase-humano.

Quase-humano, pois quem dera ser humana nesse mundo. Se ser humano fosse sentir de verdade, olhar de verdade, ser de verdade, amar de verdade... Aqueles todos que ela via não eram aquilo que deveriam ser. Aqueles todos que a rodeavam não deveriam ser aquilo que eram, e eram sobre-humanos, ou melhor, quase todos, sub-humanos.

E assim, ela fez-se lenda e resolveu rodar. Rodar e girar até ficar tonta e cair de cara no chão; naquilo que percebeu ser uma nuvem de fumaça, mas que tinha amortecido sua queda. Em seus sonhos, eram nuvens, mas como sonhos não vêm todos a se realizar, ela ficou com a fumaça mesmo. Ainda melhor que o concreto irreal que a rodeava.

E quase acordou para a vida que passava e a levava por onde quisesse; desde montanhas até maomés. Ficou com a cara amassada de dormir na fumaça, um sorriso bobo, quase infantil por cair de cara no chão, chão de fumaça. Ficou atordoada com o baque, se assustou com sua condição, arrancou seu coração e sua memória e seguiu em frente. Sempre rodando e rodopiando...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

.(des)conserto.

"Gosto, gosto muito, mas quanto é preciso gostar pra ser de verdade?"

Afirmação e pergunta constantes dela.

Em seu afinado desconserto, a vida passa e leva embora a maioria de deus pilares que pareciam tão fortes. Sua base, sua inspiração brigam por um motivo que ninguém entende mesmo de quem é o erro; sua força, despedaçada, em frangalhos, chora sem coragem de fitá-la nos olhos; seus amigos, talvez desapareçam por não entenderem suas frustrações... E aquele que poderia vir a ser alguém mais especial, está tão longe que é impossível querer que as coisas pareçam andar bem.

Pois é, a vida não corre como a gente espera. Às vezes, ela tenta se convencer de que esta é a melhor forma de viver, afinal, se tudo fosse premeditado, não haveria surpresas, e sem surpresas, não haveria magia, e sem magia, sua vida seria em vão. Mas quisera que as surpresas fossem sempre boas, sempre alegres e sempre esquecidas de derrotas. Ok, tudo continuaria chato, pois não saberíamos o valor das conquistas. Que venha a vida casual e cheia de surpresas, mas que venham poucos desagrados.

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E ela continua tentando ser alguém que ela não é, ou se esqueceu de quem ela era no meio do caminho, porque tudo mudou muito de repente. E ela continua sendo cozida em banho-maria por qualquer um. Por que ela teima em acreditar?

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

.here, a new message.

Mundo afora, ele vai caminhando. E a distância que parece aumentar não é exatamente aquela que esperamos reconhecer... E agora?


Guarda meu coração como se fosse um souvenir importante, mas não esquece de devolver, caso ele esteja pesando demais na sua bagagem, ok?

terça-feira, 4 de novembro de 2008

.desconforto.

As conversas ao telefone são sempre as mesmas. Já não sei mais se acredito ou finjo não ser mais comigo e faço que esqueço. Queria ter o que falar, queria contar pra você que estou feliz, sinto sua falta, tenho saudade, te amo, mas não dá. Tem alguma coisa que me segura.

Uma vez disse que quase te amava. A resposta veio em seguida: eu gosto de você. Mas se você me amasse só um pouquinho... Não tem como amar assim, longe. E foi aí que eu comecei a perceber o quão diferente nós somos. O quanto eu vou sofrer se continuar assim. E o quanto eu já estou dolorida por isso.

Outras vezes, a gente só precisa de uma cama e nós dois. Não sei que forma de amor é essa. Que fala só isso e parece que tá tudo certo. Uma coisa sem conteúdo, sem ritmo, sem cadência, sem sentido. Uma coisa física, humana, racional ou irracional, porque não pensa em sentimento. Eu quero ter dentro de mim não só uma parte de você. Quero te ter por inteiro. Quero ver nossos corpos se tornando um só e a gota de suor, que ela seja indefinida.

Que seja onde for. No cimento de Sampa, nas ondas baianas, em território estrangeiro. Quero sentir com força não só um ato animal, o sexo, a paixão, quero sentir com força o batuque do teu peito quando eu tentar escutar o que você sente de verdade. E se for pra ser de verdade, que a descoberta seja conjunta.

.auto-desconhecimento.

A gente compartilha tantos momentos com pessoas desconhecidas, que elas se tornam suas amigas antes mesmo que você se dê conta de que nunca as viu na frente. Aí, passam algumas semanas, ou mesmo só poucos dias, e essa pessoa sabe de vários segredos seus. Será que somos muito pessoais ou essa é uma barreira que criamos para fingir o quão fortes somos?

É difícil definir exatamente sentimentos e sensações, ainda mais se estamos inaptos a nos definir. Hoje em dia, não sei mais o quanto de mim mesma eu conheço, porque uma parte de mim está longe. OU então, uma parte de mim se esconde com medo do que a parte conhecida pode fazer. Sim, sou um bicho estranho que não responde por vários de seus atos.

Assim parece que eu preciso ficar longe da sociedade trivial. E essa é a resposta que eu não encontro. Eu preciso ficar longe da sociedade por uns instantes, uns dias, talvez. Isso porque se não me afasto, enlouqueço.

Como se dizer, então, um ser social?

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

.a ele.

Quem conhece a falta que se sente daquele que fica longe por mais de um mês. Denominou-se saudade aquela dorzinha no peito discreto da garota. E a falta de respostas a seus chamados. Ela ficou ali parada, a espera. E fingiram que era verdade, o amor. Cadê que não chega nunca o fim?

sábado, 1 de novembro de 2008

.a decisão.

Decidi. Compro uma passagem e vou pra minha Passárgada de agora. Lá eu sou amiga de vários reis, e terei o único homem que eu quero, em qualquer cama ou rede que escolherei. Vamos ouvir o som do mar, ver ondas claras e limpas, sorrir quando uma estrela-cadente passar correndo, e o pedido, ficar assim pra sempre. Que o sempre seja um tempo bom, e que dure o quanto tiver que durar, mesmo que for só 2 ou 3 dias. Vou-me embora pra minha Passárgada, e espero que seja ainda esse ano.

.crescer.

A diferença é que quando você cresce na idade, as coisas parecem mais chatas do que eram. E pra você assumir a culpa, o castigo é maior...

Tem dias que o melhor que a gente pode fazer é fingir que é criança e fechar os olhos pro mundo lá fora. A criação de um mundo só seu, cheio de invenções e pensamentos infantis é o mais belo refúgio para uma alma doente de realidade. E qual é a forma de encontrar esse lugar?

Descubra-se.